A Idade de Ouro da Tecnologia

Na mitologia grega, Sísifo foi um rei que se envolveu em inúmeras peripécias, e que foi punido pelos deuses a rolar um grande pedregulho encosta acima no abismo de Tártaro, nos mundos subterrâneos, só para ver a esfera pedregosa cair rolando barranco abaixo para novamente iniciar sua tarefa, repetindo esse ciclo até a eternidade.

Apresento-lhes o famoso Sísifo, em sua interminável tarefa de rolar esta grande rocha precipício acima. Ele está condenado a uma missão interminável, aliás, muito parecida com a nossa, de ficar constantemente de olho nas novidades da ciência e da tecnologia, para trazer a vocês, leitores e leitoras, notícias e pensatas que possam fazer alguma diferença em nossas vidas, por menor que seja.

Apresento-lhes o famoso Sísifo, em sua interminável tarefa de rolar esta grande rocha precipício acima. Ele está condenado a uma missão interminável, aliás, muito parecida com a nossa, de ficar constantemente de olho nas novidades da ciência e da tecnologia, para trazer a vocês, leitores e leitoras, notícias e pensatas que possam fazer alguma diferença em nossas vidas, por menor que seja.

Acontece que, ao longo desse nosso infinito desafio de esquadrinhar o universo da tecnologia, às vezes é importante tentar dar alguns passos atrás para conseguir olhar para o fenômeno tech como um todo. Afinal, o progresso tecnológico é uma balsa que flutua nos mares da evolução econômica e, nesse particular, cabe uma reflexão do que vem acontecendo no planeta (pelo menos) nos últimos dez anos.

A recente crise econômica mundial, por exemplo, foi uma violenta paulada que doeu muito em várias nações do planeta, abalando várias delas. Alguns países se recuperaram razoavelmente rápido, já outros, como a Grécia, estão até agora tentando se reerguer, com grande dificuldade.

A crise econômica mundial foi bastante séria e quase chegou a um ponto de ruptura.

A crise econômica mundial foi bastante séria e quase chegou a um ponto de ruptura.

A referida crise foi o resultado de um processo vicioso que, agora que tudo aconteceu, parece óbvio até para nós leigos que não poderia acabar bem. O que causa estranheza, no caso da crise, é que os “sábios” de plantão, não identificaram que o rumo era catastrófico. Ou então, se alguém tentou botar a boca no trombone, suas advertências foram cuidadosa e bem sucedidamente silenciadas.

Todavia, por sorte, a Humanidade, assim como os homens, aprende na base da paulada. Se depois da grande depressão de 1929 novos mecanismos reguladores tornaram o mercado mais seguro, após a recente crise, os organismos regulatórios já devem ter sido devidamente incrementados no sentido de evitar ocorrências semelhantes no futuro.

Quando lidamos com dinheiro (especialmente como essa moeda tão “interessante” como esta que vemos na foto), nem nos passa pela cabeça a complexidade do sistema mundial que dá respaldo à circulação desse meio monetário.

Quando lidamos com dinheiro (especialmente como essa moeda tão “interessante” como esta que vemos na foto), nem nos passa pela cabeça a complexidade do sistema mundial que dá respaldo à circulação desse meio monetário.

Entretanto, no campo tecnológico, que é o que nos interessa diretamente, a perspectiva parece ser menos sombria. Pelo menos é o que pensa Mark Stahlman, estrategista de tecnologia de Wall Street e historiador do desenvolvimento da tecnologia.

— A história dos investimentos e da tecnologia sugere que a recuperação econômica poderá ser mais profunda do que se imagina, dirigida e manejada por uma elite baseada nos “silícios” — diz Stahlman.

De acordo com as palavras desse estrategista, e baseado nos trabalhos da historiadora venezuelana Carlota Pérez, a economia se equilibra e desequilibra ao entrar numa fase de crescimento robusto e sustentado. Essa fase de ajustes pode transcorrer durante uma década ou mais (às vezes até 60 anos), e faz parte de um ciclo de intensas mudanças tecnológicas e grande atividade financeira. E nós não precisamos ir muito longe para perceber que isso bate com a realidade, lembrando dos avanços decorrentes da corrida espacial e dos numerosos inventos que nessa época surgiram, influenciando nossas vidas até hoje, com melhoramentos tecnológicos que hoje são tão comuns que mal nos apercebemos deles.

Analisando as pressões que sufocam o desenvolvimento tecnológico e os demorados períodos de ajustes até que se note uma estabilidade sustentável nesse setor, Juan Antonio Morales Arrieta, professor da Universidade Tecnológica Boliviana, observa que, ao longo desse percurso, essas oscilações não implicam necessariamente que os problemas políticos e econômicos vão deixar de existir.

— Instintivamente a tecnologia se desenvolve como a guerra, o terrorismo e o desemprego — compara Arrieta.

Durante a longa etapa de ajustes técnicos e financeiros, a indústria de tecnologia vivencia uma acirrada disputa, verdadeira briga de cachorro grande, em que o maior engole o menor sem o menor escrúpulo, e vence o mais poderoso. O caso AOL - Time Warner é emblemático, bem como o DEC (Digital Equipment Corporation) - Compaq - HP.

Durante a longa etapa de ajustes técnicos e financeiros, a indústria de tecnologia vivencia uma acirrada disputa, verdadeira briga de cachorro grande, em que o maior engole o menor sem o menor escrúpulo, e vence o mais poderoso. O caso AOL – Time Warner é emblemático, bem como o DEC (Digital Equipment Corporation) – Compaq – HP.

Na visão da supracitada historiadora Carlota Pérez, uma sociedade passa cerca de 30 anos instalando um capital financeiro, para só depois criar ou adaptar novas tecnologias. Esse superinvestimento, acompanhado de uma especulação excessiva, gera uma crise financeira, que, por sua vez, aponta para um desajuste estrutural.

— Esse obstáculo, mais adiante, vai exigir intensos esforços durante anos (até décadas) para sincronizar, tanto quanto possível, o avanço tecnológico de um país em desenvolvimento ao dos líderes mundiais da indústria — esclarece Pérez. — E, pior ainda, esses esforços precisarão contar com o apoio de fortes pressões políticas, no sentido de submeter e quebrar a resistência dos setores já bem estabelecidos no cenário tecnológico-industrial.

Carlota Pérez interpreta essas oscilações ou flutuações de longo prazo, conhecidas como “ondas longas”, como o resultado de sucessivos estágios de engate e desengate de duas áreas do sistema — de um lado, a área tecnoeconômica, de outro, a sócio-institucional. A causa desse comportamento é a grande diferença entre essas duas áreas.

A tecnologia assumiu um papel tão essencial na economia moderna, que apenas um toque que desequilibre o sistema planetário digital, pode ter consequências de alto impacto no equilíbrio financeiro do mundo inteiro.

A tecnologia assumiu um papel tão essencial na economia moderna, que apenas um toque que desequilibre o sistema planetário digital, pode ter consequências de alto impacto no equilíbrio financeiro do mundo inteiro.

Quando acontece uma desconexão, o resultado é um longo período de crescimento irregular, com forte tendência de polarização. Esse ciclo de recessões e depressões é percebido como um tempo duro e difícil.

— Quando se chega a um bom ajuste entre essas duas áreas, há um longo período de duas ou três décadas de crescimento estável, percebida como um tempo de prosperidade — explica Pérez.

Já de acordo com Arrieta, a boa notícia é que, depois da crise financeira, vem a hora da “implantação” das tecnologias, seguida de uma etapa de prosperidade, em que se percebe nitidamente uma melhoria da qualidade de vida para a sociedade e os indivíduos. Instala-se então todo o potencial de gerações de novas riquezas.

Podemos perceber claramente esse estágio hoje em dia, em que se tornou possível o surgimento de uma nova economia baseada na “nuvem” de computadores, servidores e sites — uma nuvem de dados. Esse ambiente econômico propício sobreviveu ao estouro da bolha, que na verdade funcionou mais ou menos como a “corrida do ouro”, em que grande massa de sonhadores e visionários largaram tudo em busca do metal dourado, que lhes daria riquezas e permitiria a realização de seus sonhos. Só que, como sabemos, só os mais capacitados ou os mais sortudos realmente enriqueceram com o ouro, bem como aconteceu com a bolha da internet.

Saindo da idade da pauleira, chegaremos lentamente à idade do ouro tecnológico, em que a humanidade desfrutará de um período de prosperidade e progresso intensos. Na mitologia oriental, isso corresponde ao caminho entre a Kali Yuga (idade do ferro), passando pelas etapas intermediárias, e chegando até a Satya Yuga (idade do ouro). E, se gostou desse babado oriental, uma boa googlada lhe levará a fascinantes paragens.

Saindo da idade da pauleira, chegaremos lentamente à idade do ouro tecnológico, em que a humanidade desfrutará de um período de prosperidade e progresso intensos. Na mitologia oriental, isso corresponde ao caminho entre a Kali Yuga (idade do ferro), passando pelas etapas intermediárias, e chegando até a Satya Yuga (idade do ouro). E, se gostou desse babado oriental, uma boa googlada lhe levará a fascinantes paragens.

Os sobreviventes da bolha mostraram que tinham estrutura, robustez, e que mereciam passar para o segundo estágio do desenvolvimento industrial na internet, onde surge a perspectiva de uma abordagem mais responsável da sociedade, do cliente, e do próprio planeta. Nesse particular, a Google pode ser um bom exemplo.

Muito embora não estejamos todos satisfeitos com o que temos na internet, os milhares de milhões de novos indivíduos que foram adicionados às redes sociais online estão formando uma “nova classe média” no mundo dos computadores, podendo num breve futuro estar gozando dos avanços da biotecnologia e da nanotecnologia.

— Talvez até possam desfrutar os benefícios de uma nova pele enxertada anticancerígena de grafite azul, bem parecida com a pele dos Na’Vi, do filme “Avatar” — viaja Arrieta.

Bem, não sei se vou querer sair por aí com essa pele azul. Portanto, vamos curtir bastante esta onda tecnológica de prosperidade, para, depois sonharmos com a próxima.

By Carlos Alberto Teixeira

 

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